Valorizar as pessoas em primeiro lugar é sinônimo de desenvolvimento solidário e humano
01 de fevereiro de 2013
Fonte: Adital (www.adital.org.br)
Por Marcus Eduardo de Oliveira*
Valorizar as pessoas em primeiro lugar é sinônimo de desenvolvimento
solidário e humano. Deveria ser esse o objetivo precípuo dos modelos
econômicos cujo intuito desejável seria fazer com que a economia fosse
usada para servir as pessoas, e não o contrário como, lamentavelmente, é
prática corriqueira.
Os modelos econômicos deveriam ser desenhados a partir de políticas
públicas no sentido de buscar a consolidação de uma economia mais
humana, mais social e menos mecânica, a partir da transformação social
tão necessária em épocas cujo predomínio do capital financeiro
globalizado dita todas as regras e, por isso, interfere substancialmente
na vida das pessoas, em especial dos grupos sociais mais necessitados
que habitam os não poucos bolsões de pobreza.
É sabido, contudo, que elaborar modelos econômicos especificamente
centrados na valorização das pessoas e dos grupos sociais, cuja temática
de cooperação (solidariedade) faça o embasamento das ações tanto dos
próprios indivíduos, quanto dos agentes executores de políticas
públicas, não é tarefa das mais fáceis, mas, é, todavia, exequível.
É exequível a partir do momento em que o modelo econômico (por
exemplo, a prática da economia solidária ou da economia de comunhão)
seja desenhado para promover o desenvolvimento de todos e para todos;
numa sintonia de total inclusão, de incorporação, solidário em sua
essência, que alcance os mais necessitados por meio de ajudas coletivas e
com firme atuação do Estado.
Diante disso, inevitavelmente uma pergunta se apresenta como
pertinente: Como fazer isso? Tomando o exemplo da economia solidária,
Paul Singer, em "A economia solidária no Brasil: a autogestão como
resposta ao desemprego” nos apresenta sete passos importantes para se
alcançar esse modelo. Vejamos: 1. A autogestão para a solidariedade; 2. O
fortalecimento das iniciativas econômicas cooperativadas e
associativas; 3. O desenvolvimento de redes de apoio mútuo, de
intercâmbios diversos; 4. A criação de formas alternativas de crédito e
poupança; 5. O desenvolvimento de capacidades técnicas e científicas por
meio de pesquisas e técnicas cada vez mais adequadas à satisfação das
necessidades e aspirações humanas; 6. O desenvolvimento da capacidade de
identificação dos potenciais e dos limites da natureza e o
condicionamento do crescimento econômico a tais limites; 7. A criação de
novos espaços sociais através da constituição de Conselhos, Assembleias
e Fóruns permanentes.
A matriz de construção desse modelo descrito por Singer faz ressaltar
para efeito de melhor explicação as diferenças entre dois capitais: o
social e o humano. Ambos têm a finalidade suprema de dar suporte ao
próprio modelo. Na esteira desse comentário é oportuno pontuar então as
diferenças entre ambos, ou, dito de outra forma, ressaltar a essência de
cada um deles. Por capital social deve-se entender a participação de
grupos sociais nas relações que envolvem a cooperação e a confiança
entre as pessoas, reforçando os laços de sociabilidade e solidariedade
entre os pares. O capital humano se relaciona ao fortalecimento das
competências e habilidades (é o saber fazer) das pessoas.
De todo modo, a junção desses capitais faz reforçar a parceria
(cooperação, partilha de esforços) entre os grupos. Essa seria a base de
apoio para uma economia social e humana, fraterna e solidária que põe,
impreterivelmente, as pessoas em primeiro plano visando unicamente
atender as necessidades mais prementes dos participantes. Em suma, tal
prática de atividade e conduta econômicas leva a organizar, integrar,
participar e, no bojo, cooperar e partilhar. Em outras palavras é um
tipo de economia de inclusão (que soma), longe da habitual exclusão (que
subtrai). Esse tipo de modelo econômico tão desejado e alcançável,
ainda que muitas forças atuem em sentido contrário, deve carregar as
cores do desenvolvimento humano, social, sustentável e solidário,
fazendo desses pressupostos objetivos a serem buscados diuturnamente.
Suas essencialidades seriam: 1) humano, porque prioriza as pessoas em
primeiro lugar; 2) social, pois envolve a teia de relações estabelecidas
nos grupos sociais e, por fim, 3) sustentável, porque tende a perpetuar
os ganhos estendidos a todos ao longo do tempo. Concluindo: esse modelo
de economia que põe uma grande lupa na questão do desenvolvimento
solidário prioriza e valoriza o maior de todos os princípios: a vida. E a
Economia – enquanto ciência social - tem tudo a ver com as relações que
enaltecem a qualidade de vida das pessoas, com o bem viver.
* Marcos é Economista, professor e especialista em Política Internacional pela Universidad de La Habana - Cuba.
Por Arimatéia.
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